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Avatar de Ivan Nery Cardoso

Ótima análise dessa história que só o Brasil (e a Améria Latina como um todo) conseguem produzir assim, fora dos livros, na vida de um José Eduardo que se torna Lanceot.

Ler a sua abordagem ficcional do episódio me fez pensar numa outra cena que (espero) não tenha acontecido:

O juiz Wickfield faz um pequeno jantar para colegas em seu apartamento suntuoso na Vila Mariana. Um dos convidados já vem há algum tempo com uma pulga atrás da orelha em relação ao anfitrião. Algo em seu sotaque, talvez, ou uma história do avô que não confere abriu a porta para deixar a suspeita entrar em sua mente. Em um momento de descontração (ou após uma ida ao banheiro), essa personagem vai ao cômodo onde fica a biblioteca de Wickfield. Essa pessoa sabe do gosto que o juiz possui pela literatura clássica inglesa e, leitor imparável, não resiste a uma olhadela naquelas estantes. Que segredos esse lorde guardará? Que tesouros trouxe de sua terra natal? Seus olhos passam pelas lombadas, seus dedos puxam um volume aqui, um volume ali, até que param sobre um livro de história. History of English Literature, de Edward Albert. Que coincidência, pensa, um Edward Albert, como Wickfield. A personagem pega o livro. Na folha de rosto, um nome assinado, José Eduardo. Nota páginas marcadas ao longo do livro. Abre em uma delas e vê um parágrafo sobre as crônicas arthurianas, onde Lancelot está sublinhado. Vai em outra página marcada e vê um parágrafo sobre Agnes Wickfield em David Copperfield. Na terceira página aberta, sobre Os Contos da Cantuária, uma figura aparece às suas costas. É o juiz Wickfield, e, apesar do sorriso, os dois sabem que o segredo foi revelado. E sabem, mesmo sem a ameaça feita, que apenas um dos três sairá com vida daquela biblioteca.

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Avatar de Ana Rüsche

A melhor coisa que li hoje! Obrigada. Esse texto apaziguou meu coração de tantas formas… 🧡

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